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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

AMAR E O TÁS MAL

AGRA



E zás, já fomos picar o cartão ao Tás Mal... Turista que é turista jamais deixa a Índia sem visitar o Tás Mal. As fotozinhas da praxe e pronto, já está! O Tás Mal é mesmo uma coisa bonita de se ver, de qualquer forma tenho dúvidas (muitas) se é mesmo a mais impressionante construcção que já vi. Fora isso tentámos dar-nos bem com Agra, mas nem por isso conseguimos. É uma cidade muito suja, mal cheirosa, desorganizada e muito cara se comparar com os outros lugares que já visitei na Índia. Em Agra é mais difícil negociar os preços porque a procura é suficientemente grande e os comerciantes nem sempre se importam de não fazer negócio. Não foi mesmo fácil sentir conforto em Agra. E não fosse o Taj Mahal, e o Forte de Agra (que é muito bonito também), não valeria mesmo a pena visitar Agra. Perdoem-me se estou a ser mauzinho, mas Agra (cidade) não me ficará na memória por bons motivos. Diria mesmo que o Tás Mal estaria melhor noutro lugar. Pela primeira vez aceitámos apanhar uma cycle-rishaw (bicicleta-táxi), cujo seu condutor se chamava Amar e tinha 13 anos. Para mim foi algo especialmente estranho aceitar dar trabalho a uma criança, que deveria estar na escola e não a trabalhar desde que o sol nasce até que caia a noite novamente (todos os dias), ele contou-nos que a sua vida era assim mesmo. Estar ali com o Amar significava mais para mim do que apenas a requisição dos seus serviços, era um miúdo que ali estava a governar-se no mundo dos grandes. A caminho do Forte de Agra, fomos trocando de vez, ora pedalava ele (nas zonas com mais trânsito e cruzamentos), ora pedalava eu em rectas mais longas ou estradas mais calma. Dividimos assim o esforço e foi para mim divertido conduzir a cycle-rishaw. O Amar falava excepcionalmente bom inglês, dominava completamente as palavras e as frases que frequentemente utilizava com os turistas, no entanto mostrava algumas limitações quando tentávamos falar acerca de outras coisas que não as coisas a que ele estava habituado a falar. Sobre a escola por exemplo, sempre que eu falava na escola ele ficava sem palavras para me responder. Quando chegámos ao Forte, o Amar, de imediato perguntou quanto tempo demorávamos na visita porque queria ser ele a levar-nos de volta para outro lugar e assim ganhava mais dinheiro. Não respondi, mas perguntei-lhe se ele já tinha visitado o Forte, ele disse que sim, mas foi um sim muito envergonhado e logo topei que não era verdade. Convidámo-lo para vir connosco mas ele teimava em não aceitar. Por fim, depois de algumas tentativas, lá aceitou, acho que só aceitou porque eu lhe disse que se ele não viesse connosco, podia ir-se embora porque nós não voltávamos a sentar-nos na sua cycle-rishaw. Lá nos acompanhou, não sei se lhe deu grande prazer visitar o Forte e estar rodeado de pessoas “diferentes”, de pessoas que não as do seu “nível social”. É incrível como na Índia ainda existe tamanha diferença no que diz respeito a classes sociais. É verdadeiramente triste ver como as pessoas se tratam de diferentes formas consoante a sua classe social. Então foi assim que fomos quebrando algumas regras e fizemos do Amar o nosso amigo especial que nos acompanhava na visita ao Forte de Agra. Foi logo estranho à entrada, por entre alguns comentários e expressões de espanto, o segurança lá nos deixou entrar com o Amar, mas claro, tivemos que explicar mais do que uma vez que ele era nosso amigo e que nos acompanhava. Já dentro do Forte um outro segurança chegou junto do Amar e pegou-lhe no braço perguntando o que ele ali estava a fazer, eu cheguei-me atrevidamente e perguntei por que razão é que ele segurava no Amar pelo braço e porque que razão ele estava a perturbar a nossa visita ao Forte. O segurança tratou de falar em hindu só para o Amar perceber, num tom invisivelmente rude que quase não nos possibilitou perceber muito bem o que ele queria mesmo, depois percebemos que o tentou intimidar dizendo que ele não podia estar ali. Eu continuei a insistir a perguntar qual era o problema dele e porque não podia o Amar estar ali connosco. Por fim o segurança deixou-o pois o estatuto do turista na Índia é respeitado e a minha teimosia foi suficiente. Já o pequeno Amar, com os seus 13 aninhos, não poderia visitar o Forte se não estivesse connosco. Senti-me saudavelmente bem ao quebrar um pouco do que são estas retrógradas regras indianas. Eu olhava para o Amar e só conseguia ver ali uma criança, todavia ao longo da nossa visita ao Forte muitas pessoas nos olharam com ar de admiração e adivinho que perguntavam a si mesmas “O que está aqui a fazer este da classe dos pobres”, ou algo de muito parecido. O Amar não estava bem vestido, mas também não estava mal vestido. Mais importante, o Amar ainda é uma criança, mas aqui na Índia isso ainda pouco importa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ola Bruno,

Fizes-te muito em convidar o Amar, eu se aí tivesse, fazer-lhe-ia o mesmo.
Pois é pena que seja assim, aí por esses lados.

Abraço!!

disse...

Hello!!!
Há qnt tempo que n vinha aqui fazer uma visita!! E qual é o meu espanto...uma viagem à India!! Que bom!!! E como sempre uma excelente escrita com umas fotos brutais!
Bjokas grandes e td a correr bem!
A ver se nos vemos um dia destes, agora ando entre Caldas e Lisboa!
***Jô