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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O LAGO SAGRADO E O DEUS BRAMA

PUSHKAR



O fim-de-semana levou-nos até à pequena cidade de Pushkar, conhecida por ser um lugar extremamente religioso, onde, quase a cada esquina, se pode encontrar um templo hindu. Mas o grande símbolo de Pushkar é o seu lago sagrado. Os rituais nas suas margens são muitos e a cada instante se pode ver o quanto aquela água é respeitada e adorada pelos indianos. Avisos espalhados algures nas enormes escadarias que envolvem as suas margens, dizem que só se pode estar a menos de 40 “pés” da água se se estiver descalço, caso contrário pode ser levado como um sinal de desrespeito para com o hinduísmo. Pushkar é um lugar aparentemente calmo, todavia não posso dizer que assim mesmo o seja, pois a sua calma aparente pode ser, por vezes, quebrada pelos pedintes de rua, que esperam os forasteiros para misturar a sua fome de moedas com a venda de rituais religiosos que, nas suas palavras, devem ser seguidos como sinal de respeito pelas suas tradições, no entanto facilmente se percebe de que, a eles, pouco importa a tradição ou o nosso devoto e respeito pela sua religião, ali são as moedas que comandam a operação. De qualquer forma existe sempre forma de os contornar, não será devido a deles que uma visita a Pushkar deixa de ser agradável. De entre todos os mais de 400 templos que fazem de Pushkar o lugar da Índia com mais templos por metro quadrado, existe um que me parece especialmente importante, pelo facto de ser o único na Índia dedicado ao Deus Brama. Segundo o hinduísmo, Brama (o criador) teve como tarefa a criação do Universo e do ser vivo, sendo que essa função há muito foi cumprida e talvez por isso, apesar da sua reconhecida importância, poucos hindus o têm como referência. A mim parece-me um Deus um tanto ou quanto injustiçado, depois de tamanha tarefa merecia talvez um pouco mais de atenção, mas no fundo até compreendo, se eu fosse hindu talvez também daria maior importância, por exemplo, ao Deus da sorte e da boa fortuna, ou ao Deus da energia, não sei, digo eu assim por alto. Na verdade pouco sei sobre o que pensam os hindus acerca de Brama, talvez até esteja enganado no que digo. De resto as ruas de Pushkar são divertidas, muita música, muitas lojas e restaurantes vegetarianos. Em Pushkar não se bebem bebidas alcoólicas, nem se comem comidas que não sejam vegetarianas. E claro, também aqui as vacas fazem o que querem, onde querem!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

INCRÍVEL ÍNDIA

INDIA



Índia, Índia... Incrível Índia, como muitas vezes vejo algures por aqui escrito e que também muitas outras vezes me apetece repetir em jeito de desabafo, simplesmente porque de facto, a Índia é um lugar incrível. Jamais esquecerei o dia em que, ainda mal acordado e acabado do saltar da confortável cadeira do Boeing 777, troquei os meus euros por rúpias, sem nunca antes me ter dado ao trabalho de ver com o quê se parece uma nota indiana. Saí do aeroporto, porta fora, em direcção ao coração de umas das maiores e mais caóticas cidades do Mundo, Nova Deli. O cheiro; o calor tão diferente, sufocante; as pessoas; o barulho; a vertiginosa desordem que ali me invadiu (ou eu a ela), logo após o primeiro passo no exterior do aeroporto. Tudo tão rápido, tudo tão confuso que foram necessários alguns segundos de concentração para que aquela minha figura de turista inocente, desorientado no meio da ameaça do caos, pudesse, por fim, desaparecer da minha imaginação. Pensei por momentos se estaria mesmo preparado para, tão de repente, enfrentar tamanha novidade. “Yes, Sir!... Come!... Where you going?... Come with me!... Please enter… Sir… Yes… Come Sir!”, Na verdade não estaria mesmo preparado para absorver tudo o que naquele momento se passava à minha volta. Acabei por “cair em mim” quando já estava sentado num dos táxis que faziam espera perto da porta principal do Aeroporto. No táxi olhava à volta, não conseguia ver tudo quanto queria, o condutor guiava muito depressa e havia tanta coisa para ver que um simples piscar de olhos me poderia afectar o momento. Esta primeira viagem que me levou para dentro de Deli parecia uma alucinação, uma autêntica cena de cinema que nunca antes tinha sentido e nem imaginei que iria sentir. Aos poucos, a adrenalina foi baixando. Quando chegámos a paragem de autocarros (com destino a Jaipur), o meu instinto “duvidador” actuou pela primeira vez, aquilo parecia tudo menos uma garagem de autocarros. Por fim, vi que era mesmo o lugar certo, pedi desculpa e agradeci ao taxista, que prontamente aproveitou para pedir uma gorjeta extra. Eu recusei, ele insistiu. Eu recusei pela última vez e virei-lhe as costas. Hoje, passada uma semana e alguns dias desde a minha chegada, já consigo perceber um pouco melhor sobre como estar no dia-a-dia da incrível Índia: continuo a olhar para as coisas com os olhos muito abertos e fascinados, mas já não me parece uma cena de cinema; continuo céptico, mas já sei que muitas coisas podem não parecer o que são. E tantas outras coisas que já aprendi, simplesmente tendo a incrível oportunidade de as viver. Seja quem for, aconteça o que acontecer, a Índia, só pode ser para alguém a Índia, quando esse alguém tiver a oportunidade de viver o seu cheiro; o seu calor; as suas pessoas; o seu barulho e o seu silêncio; a sua desordem e a sua paz. Antes disso, a Índia não poderá ser mais do que aquele lugar que todos (ou quase todos) têm como sendo um lugar “Incrível”, não podendo no entanto imaginar o verdadeiro significado do adjectivo.