Páginas

sábado, 28 de maio de 2005

RETALHOS DE UMA HISTÓRIA (2)

MAS QUEM SÃO REALMENTE OS HÚNGAROS?



Mas quem são realmente os Húngaros? Como se definem? Frequentemente dizem-se o povo “mais solitário” da Europa, pois não manifestam nenhuma ligação com os seus vizinhos. Esta situação é confirmada, em primeiro lugar, pela língua, completamente isolada em relação aos outros idiomas europeus. De facto, o húngaro, para quem não o conheça, é verdadeiramente incompreensível; não apresenta nenhuma afinidade com as outras línguas europeias, tanto românicas como germânicas, nem com o russo ou qualquer outra língua eslava. Com efeito, o húngaro pertence à família linguística ugro-finesa dos idiomas desenvolvidos entre os Urales e o Altai; seria, então, aparentada com as línguas faladas pelos Finlandeses, Estónios e Iacutes. Mas, actualmente, um húngaro não conseguirá compreender estas línguas, dado que estão muito diferenciadas. Em segundo lugar, subsiste um isolamento étnico que tem raízes antigas. Até ao século IX, os Húngaros ainda não se haviam fixado na sua pátria actual. Como eram nómadas, deslocavam-se continuamente nos territórios entre o Volga e os Urales. Só depois de muito séculos de migração para ocidente, período em que se uniram a outros grupos, reuniram-se na região correspondente à Hungria, levando consigo a sua língua, “rodeados de eslavos e germânicos” até ao nosso tempo. Os Húngaros são magiares, isto é, descendentes de uma antiga tribo dos Megyer, de origem ugro-finesa, que remonta ainda à dinastia dos Arpad, cujo fundador homónimo foi o lendário chefe dos Magiares durante a migração para o seu país actual. O termo “húngaro” remonta ao domínio do reino búlgaro de Onogug, a norte do mar Negro, que rebaptizou a região como Hungria, em língua eslava. No século XX, o país sofreu um grande desmembramento: com o Tratado do Trianon (1920), dois terços do território passaram para domínio estrangeiro. As fronteiras traçadas então são mais ou menos as actuais. Vivem na sua pátria cerca de onze milhões de húngaros e mais de três milhões nos países vizinhos, de que a maioria reside na Roménia. Ceausescu sempre negou a esta minoria, que conta cerca de dois milhões de pessoas, os direitos fundamentais, dando origem a frequentes conflitos entre os dois países. Mas também há centenas de milhares de húngaros na Eslováquia, na Voivodina russa e na Ucrânia. Hoje como ontem, é motivo de grande mágoa para os Húngaros a fragmentação da sua comunidade; mas, caso curioso, acham perfeitamente normal que milhão e meio de compatriotas tenham emigrado para os Estados Unidos, Canadá, Europa Ocidental, Austrália e África. Todos os anos cerca de 200.000 dos seu descendentes visitam a sua pátria como turistas. Dentro das suas fronteiras, os Húngaros representam a maioria absoluta da população. Entre as minorias, sobressaem os romanis, isto é, aqueles que genérica e impropriamente se designam como zíngaros ou ciganos. Constituídos por um grupo de cerca de 500.000 pessoas, os romanis sempre caracterizaram a imagem folclórica e alegre da Hungria. Mas na realidade as coisas são muito diferentes; pois, como nunca usufruíram de nenhum direito no seio da sociedade, sofreram ao longo dos tempos ferozes perseguições, e ainda hoje são discriminados, segredados e objecto de atitudes racistas. (continua)

in Terras e Gentes - Europa do Norte e Europa do Leste

3 comentários:

Papa Ratzi disse...

Nunca fui à Hungria. No entanto mantenho contactos regulares via correio com dois filhos da Puszta, um de Budapest e o outro de Kisujszállás.
É curioso que apesar de nada terem a ver connosco são no entanto muito parecidos com os portugueses, pelo menos na fisionomia! Mas se abrem a boca não há maneira de perceber o que eles dizem.

Papa Ratzi disse...

Uma pequena correcção:a Vojvodina não é russa. É uma região autónoma da Sérvia-Montenegro, situada ao norte da Sérvia.

Bruno Monteiro disse...

Parece-me que tens razão!
Obrigado! ou em Húngaro "Köszönöm"!