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terça-feira, 11 de novembro de 2008

ILHA DE DIU

DIU



Diu, tal como Damão e Goa, foi colónia portuguesa durante mais de 400 anos. Esta pequena Ilha com cerca de 11 por 3 km de distância situa-se perto da costa central indiana, no Mar Arábico, a sul do estado de Gujarat e tem ligação com o restante continente através de uma pequena ponte. Em 1961, após algumas tentativas de acordo falhadas entre o governo indiano e o português (liderado por Salazar) para entrega da Ilha à Índia, o exército indiano ocupou Diu, tornando-a seu território. A minha visita a Diu foi inesperadamente saborosa. Para além de encontrar comida que me possibilitou fazer uma valente pausa dos fortes temperos indianos, encontrei ainda muitas outras coisas que me fizeram ficar com bonitas recordações deste lugar. Pela primeira vez estive tão longe de Portugal com oportunidade de sentir uma valente aragem lusitana, a herança deixada em Diu não passa despercebida, ao longo de toda a Ilha é fácil encontrar vestígios da estadia portuguesa, nos nomes das Ruas, as Igrejas, Conventos, o Forte de Diu e os alguns descendentes indo-lusitanos que teimam em deixar vivas as marcas. O português continua a ser usado, mesmo pelos mais pequenos. Um comerciante, ao perceber que eu me aproximava do frigorífico da sua pequena loja, perguntou-me em português “Água fresca?”, mesmo antes de saber se eu o entendia. Então depois de descobrir que estava ali um Tuga de raiz, puxou um banco para me deixar confortável e começou a dar corda à garganta. Durou até eu dizer que estava cansado e que precisava de dormir. Foi muito importante e agradável conhecer e falar com estas pessoas e perceber o quanto estimam um país que influenciou a sua existência, mas que muitas delas nunca tiveram o privilégio de visitar. Falei com o Sr. Isaac que não gosta de Fado e me perguntou se tinha Tango ou Valsa para lhe gravar. Mas foi com a mãe do Sr. Isaac que o suspiro lusitano me atacou com mais intensidade, senhora já na casa dos setenta, contou que se não fosse o Sr.Isaac estar prestes a sair-lhe da barriga, também ela tinha fugido para Portugal em 61. Num jeito muito calmo e ao mesmo tempo tresloucado, contou-nos como se recorda dos tempos em que a Ilha era governada pelos portugueses, e o quanto o governador era atencioso para a povoação, tão atencioso que quando era chamado devido a algum problema, ele próprio se deslocava a casa das pessoas para saber do que se tratava. Quase de lágrimas nos olhos, disse-nos ainda como se recorda do barulho das bombas com que os indianos expulsaram os portugueses em Dezembro de 1961. Eu tenho pena de apenas ter tido oportunidade para ouvir e não falar/perguntar, uma vez que a audição da mãe do Sr. Isaac já não a deixa aventurar-se em grandes conversas. Um pouco por cada canto lá fui encontrando formas de matar algumas saudades de casa. Diu é completamente diferente dos outros lugares que tinha antes visitado na Índia, muito mais calmo, limpo e socialmente melhor organizado, talvez seja do número reduzido de população, em relação aos outros lugares, mas também não posso deixar de acreditar que a influência portuguesa tenha sido fulcral na construção daquele lugar. O dono de um dos restaurantes que frequentei deu-me como razão para a passividade da Ilha, as regras vigentes aquando a governação portuguesa. Disse-me que isso permitiu uma relevante organização social e também cultural, como prova temos a taxa de alfabetismo de Diu, que está bem acima da média indiana. Para acabar e aproveitando tamanha passividade, porque não alugar uma scooter e tentar descobrir os mais escondidos recantos da Ilha, foi o que fizemos e muito bem!

1 comentário:

Anónimo disse...

Sem dúvida nenhuma que não houve melhor tempo para os habitantes das ex-colónias da Índia Portuguesa quando Portugal lá esteve.
Não apenas em Diu, mas também em Damão e Goa contactei com várias pessoas, em português, e há uma enorme simpatia por Portugal. Alguém só reconhece a pátria portuguesa. Em Diu chegaram a dizer-me assim: gosto de ver a RTP internacional para estar informado sobre o que se passa na minha pátria.
A. Vieira