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segunda-feira, 2 de abril de 2007

MURO DAS MEMÓRIAS

BERLIM



Escondidas numa Berlim agora completamente modernizada continuam as imensas memórias da actividade nazi, das guerras, da cortina de ferro. Escondidas ou nem tanto. Se por um lado me parecem, os berlinenses, querer fugir a tais antepassados, outros sempre haverão querendo neles entrar, e eu não pude deixar de o tentar fazer. Chegar, sentir o cheiro, sentir o palco de mil histórias da antiga alemanha que foram crescendo comigo e com certeza um pouco com todos nós, muitas vezes sem nelas pensar ou sem a elas dar muita importância. Ouvi falar de muitas histórias antes, mas agora é diferente, agora consigo quase sentir-me dentro delas, mesmo sabendo o quanto tudo mudou. Apesar dos anos que lá vão, dos montes de edificios apagados e dos novos que em seu lugar cresceram, do muro que já não existe, de uma Berlim de hoje completamente diferente do que era, apesar de tudo isto estando lá acaba-se sempre por sentir toda a energia e intensidade daqueles anos que teimam em não ser esquecidos ou posso dizer, nunca o serão. Entre Budapeste e Berlim ficam cerca de 900 km de estrada que atravessam 3 países antes de entrar a sul da Alemanha. Decidimos saltar para a estrada, esticar o dedo e esperar pela boa vontade dos condutores que passavam. O resultado, uma viagem longa, barata, e com algumas bons palmos de conversa com aqueles que pelo caminho nos partilharam o seu espaço. Gyor, Bratislava, Brno, Praga, Dresden e por fim a chegada. Em Berlim, o primeiro destino, casa da Kristina que nos deu um bocado do espaço do seu quarto durante estes três dias. Acabei por relacionar toda a vida e imagem do seu apartamento com as pessoas alemãs, sobretudo com a imagem que eu tenho das pessoas alemãs do pós-guerra. Esta realidade encaixou perfeitamente naquilo que meu imaginário havia criado. Tudo tão diferente, pintado, escrito, colorido... As pessoas, os cabelos delas, as roupas delas, tudo parece tão novo, tão aberto. Berlim é definitivamente uma cidade moderna, de mente aberta e onde as alternativas existem, Berlim não é uma cidade banal, Berlim é sem dúvida um lugar onde as ideias se sentem flutuar. Por outro lado, a Berlim de hoje deixou-me sentir um pequeno vazio, mas um vazio meu e egoista de quem quer saltar mais ainda para cima da história, ela estava lá, mas com o cenário completamente refeito, parecendo ter havido vontade de não deixar rastos de que algo se tenha ali passado. Mas sim, a cidade foi completamente destruida durante a segunda guerra e com certeza não há alemão que não tenha feito os possiveis para apagar qualquer vestigio da destruição. Há uma excepção, a Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche (a Igreja das Memórias), foi deixada tal como ficou após a invasão dos Aliados, daí o nome que tem. Em plena Los Angels Platz, a Igreja das Memórias faz frente aos mais variados e exuberantes estilos modernos que os edificios em sua volta ostentam, mas que acabam desvalorizados no meio de magestosa mostra da realidade da guerra. A poucos metros da Los Angels Platz fica o Zoologischer Garten e a estação que não poderia deixar de me fazer recordar Christiane F. Daqui metade a pé e outra metade no autocarro 100 e ficámos em frente ao Reichstag. Depois, um pouco mais, passamos o Brandenburger Tor e acabámos em Alexander Platz a imaginar a vista que se poderá ter do topo da Fernsehturm (a Torre de Televisão). Depois caminhamos na rua Kastanienallee ao largo dos imensos e diversos bares e lojas. Berlim vale pela diversidade cultural resultante de um povo "renovado" e de mente aberta. Kristina contou-nos algumas histórias sobre as suas (más) experiências com alguns Nazis, ainda existe uma relativa comunidade em Berlim contra quem, segundo a Kristina, a policia parece continuar a travar lutas. A nosso último destino foi Kréuzberg, antes ouvimos falar muito desta zona da cidade e não fomos embora sem visitar, infelizmente deu apenas tempo para uma cerveja ao ritmo da Bundesliga, um café ruidoso onde fanáticos de futebol dividiam apostas. Berlim é uma cidade bonita, não da mesma forma que Budapeste é, mas de outra talvez mais importante. O regresso à Hungria não foi tão fácil como a ida para a Alemanha, mas por fim lá chegámos a casa... Satisfeitos.

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