Páginas

quinta-feira, 20 de julho de 2006

O AUTOCARRO

Nunca antes tinha necessitado tantas vezes de usar um autocarro como desde que cheguei a Budapeste. O autocarro é agora, aqui, parte de mim. Apanhar o 173, sair em Blaha Lujza tér, voltar a entrar no 7, sair na paragem seguinte, esperar pelo 75 na Stefánia utca e sair em Városliget para um passeio no parque da cidade são rotinas que chegaram a mim, assim. Às vezes utilizo o metro, mas penso sempre que não é em baixo que a vida corre. No autocarro posso olhar para as vidas a correr. Não consigo imaginar quantos milhares de pessoas utilizam diáriamente os autocarros de Budapeste. Umas debruçam-se sobre livros e jornais para passar o tempo, outras falam com um telefone, outras simplesmente estão lá, talvez a mergulhar em pensamentos, outras dormem e outras abstraem-se dos sons exteriores e escondem-se debaixo de uns ascultadores, ás vezes consigo ouvir-lhes a música. Todavia gosto do som do autocarro, o som do ar das portas a descomprimir quando estas se abrem ou fecham, o som da aceleradela mais forte do arranque depois de mais uma paragem, a melodia que antecede a voz da menina nas colunas do autocarro a avisar qual a paragem que se segue, o próprio peculiar som da voz da menina, ou mesmo o pequeno buzinar após alguém pressionar o botão que indica a necessidade de paragem para alguém sair. A maior parte das vezes volto para casa no autocarro da noite, é quase impossível manter-me acordado durante os cerca de 30 minutos da viagem. Já algumas vezes dei comigo na última paragem com uma qualquer pessoa a tentar falar comigo, ou a tentar simplesmente acordar-me. Acordo e reparo que nunca sou o único a deixar-me ficar para a última paragem, acho piada e fico mais aliviado. A primeira vez baralhou-me um bocado… Onde estou eu? Mas lá dei com o caminho depois de uns bons metros ou quilómetros. Agora tenho um plano. Alarme do telemóvel a despertar um pouco antes da paragem certa. E funciona. Chego a casa, peço desculpa à minha bicicleta por não a ter usado mais uma vez e no final fica tudo bem.

6 comentários:

carlos disse...

sim. lindo!
as coisas ganham vida com os teus olhos.
estou a ficar lamechas...
kiss

zharpah disse...

Lamechas?! Será isso alguma espécie rara e em vias de extinção ou outra qualquer forma de olhar...? eheheheh
Agora no que toca às coisas ganharem vida também concordo. Diria não só que as coisas ganham vida como também prendem quem as lê!

Anónimo disse...

Pois, isso tb me acontece. Ponho-me a visualizar tudo, e até já tinha imaginado:

Tu sempre mais ou menos a meio do autocarro (visto de frente ias do lado esquerdo). Não ias a ler, nem a ouvir musica. Ias com acabeça encostada ao vidro a olhar para fora. De vez em quando, algo te chamava mais a atenção e olhavas de repente para atrás a tentrar ver melhor... e pensavas amanhã não me posso esquecer de reparar antes.. entretanto, vinha o cansaço e pois, lá fechavas os olhitos. Tentavas a custo abri-los, até pq já sabias como é q a viagem ía acabar (com a tal alma caridosa a acordar-te), mas nada a fazer. No fim, sorriste para a senhora e para ti próprio.
Saíste e começaste a voltar para tràs.

Anónimo disse...

Não há voos baratos para aí?...

Anónimo disse...

Boas Bruno concordo com os teus colegas; sim a tua ecrita prende; continua com o bom trabalho.
Ontem foi o meu ultimo dia em Budapest?. mas ja tenho saudades

vamsow

Anónimo disse...

Lembro-me das viagens de autocarro em Budapeste. Lembro-me muito de parar umas paragens à frente e da viagem a penantes. Irra! (sem ressentimentos... já estou mais do que recuperada)
Continua o bom trabalho e as viagens nessa outra terra.
Beijinhos.